segunda-feira, 21 de setembro de 2009

MEMORIAL JOAQUIM MELCHIORETTO

Será que serei útil?

Era semana no natal de 1952, nascia um menino numa simples casa; no interior do município de Luís Alves. Como foi sempre magrinho e doentio, seus pais, humildes, ele ferreiro e ela, além da casa e mais oito filhos, lutava na roça com aquela “penca” de crianças. A esperança deste casal era que esta criança se saísse bem na escola.
Lembro-me que o dia mais feliz da minha vida foi quando mamãe fez uma bolsinha de pano a tiracolo, colocou um caderno, um lápis, uma borracha e duas bananas para o lanche e falou:
“Filhinho, hoje você vai para a escola, seja obediente e faça tudo que a professora pedir”.
Nunca esqueci aquela figura amável que me recebeu na porta daquela sala única, com um beijo e um abraço. Aquele bangalô cor de cimento por fora e branco por dentro me acompanhou as quatro séries iniciais, hoje já não existe mais, mas está vivo na minha memória e em meu coração, pois nela ainda tive a oportunidade de ser o professor.
Terminado o primário, em nosso município não havia ainda ginásio, como era coroinha fui convidado pelo padre vigário para ir para o seminário. Mais uma vez, minha querida mãe, hoje com 92 anos, arrumou um enxoval, minhas roupas e me encaminhou ao seminário.
Um dia de madrugada do mês de fevereiro, lá nos anos de 1965, com uma simples mala, beijei meu pai, minha mãe e meus irmãos e parti para o seminário de Azambuja, Brusque.
Chegando lá fui recebido pro vários padres. A luta iniciava. Eram várias matérias: latim, inglês, francês, português, grego, isto só falando em línguas. A leitura era diária. Recordo-me que primeiro li vários livros de vida de santos, mas de literatura foi “O guarani”, de José de Alencar, ainda hoje me lembro da história.
O ginásio foram quatro anos de muito estudo e muita leitura, agradeço a Deus por ter tido sido agraciado por esta oportunidade.
O ensino médio, científico, também fiz no seminário. Lá as coisas eram no sério, era estudar, ler e escrever. O professor de português apenas orientava e nós tínhamos de ler e pesquisar na ótima biblioteca que havia no colégio. E o que marcou minha leitura foram as obras de Machado de Assis. O professor solicitou a leitura de quatro romances realistas de Machado de Assis e fazer um trabalho. E até hoje, pessoalmente considero Machado de Assis, o melhor escritor brasileiro.
Deixando o seminário por divergir de muitas coisas ali executadas, resolvi fazer a faculdade de letras e seguir carreira do magistério. No curso, na década de setenta, no início da Univali, tive a felicidade de ter professores como: Celestino Sachett, Padrão, Alcides Buss, Galatto, entre outros que marcaram as nossas faculdades regionais.
Encorajados por amigos fiz, também na Univali, pós-graduação em Língua Portuguesa-Gramática – e mestrado em Educação defendendo “O que é ser escritor”.
Lecionei na Univali e atualmente só apenas professor de carreira estadual. Gosto muito de ler, e principalmente, de rabiscar poesias, contos e até já rascunho alguns romances, que estão engavetados, porque professor editar é muito difícil.

Joaquim Melchioretto

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